Naquela tarde, durante a merenda das quatro primas, no jardim da casa de campo onde costumavam passar as férias de verão, a Catarina disse ao ouvido da Francisca em voz muito baixa:
- Sabes que vou ao baile, amanhã à noite?
Enquanto falava, ia olhando à sua volta, para ver se as outras meninas tinham ouvido ou percebido alguma coisa. Mas elas estavam muito entretidas com uma brincadeira que tinham acabado de inventar e tentavam vestir o cão dos vizinhos Fonseca com a blusa verde de uma das empregadas da Quinta das Nespereiras, a Adélia. Mas o cão, que não achava realmente graça nenhuma àquela ruindade, punha-se a rosnar e debatia-se com toda a força, enquanto elas o agarravam pelas patas e diziam:
- Quieto, quieto, Toby.
Aqueles dias de vida ao sol e ao ar livre ao pé do mar tinham-nas posto mais morenas e agora, agachadas sobre o cachorro, elas pareciam mais largas de ombros e mais robustas , como se já tivessem quinze ou dezasseis anos em vez de onze ou doze.
- Porque é que estás a falar tão baixo? – perguntou a Francisca muito intrigada - , parece mesmo que me estás a dizer um segredo… olha o que aquelas duas estão a fazer! Que maldade… coitadinho do animal…
E gritou:
- Ó meninas, parem lá com isso!
Mas as outras duas, a Alda e a Lena, não a ouviam e, muito concentradas nos seus esforços, estavam quase a conseguir o que queriam, apesar dos saltos que o cão continuava a dar.
- O segredo vem a seguir – respondeu a Catarina, enquanto ambas se curvavam para a casinha das bonecas de madeira pintada de cor de rosa que estava pousada no chão. – Francisca, Francisquinha, tu nem imaginas…
Olhou outra vez para todos os lados e, chegando-se mais a ela, acrescentou, numa voz que mal se ouvia agora:
- Vou levar umas botas mágicas que estão lá em cima. Sei que estão no sótão.
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