Fundo do Mar
No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança
Sem ruídos vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço
Mas, por mais bela que seja cada coisa,
Tem um monstro em si suspenso.
Sophia de Mello Breyner Andersen, Poesia I, Ed Caminho
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